Querida Mamãe:
Hoje eu consigo escrever uma
cartinha para você num micro computador. E posso mais. Posso também escrever
cartas para os fornecedores da empresa onde trabalho, em todo o mundo, usando
uma língua que não é a nossa.
Mas, há muito tempo, foi
você quem me ensinou as primeiras letras e as primeiras palavras. Você me dava
aulas de caligrafia escrevendo as palavras no início da linha do caderno e eu
tinha que repeti-las até o final.
Uma das palavras era “Esso”,
sim, a marca da gasolina. Duvido que você lembre, mas eu nunca esquecerei.
Graças às aulas que você me
deu, nunca precisei ir ao jardim-de-infância: Você me alfabetizou. Graças ao
Português que você sempre falou e me ensinou, consigo expressar-me
corretamente, usando os verbos no tempo certo.
Graças à tabuada que você
insistiu em me ensinar, nunca esqueci que nove vezes nove é oitenta e um.
Era um tempo bom em que eu
passava as tardes com você. No lanche havia mate quente com torradas. Você
fazia as torradas apertando o pão no fundo da frigideira com um pouco de
manteiga. Eram as torradas mais gostosas do mundo.
Às vezes, no trabalho, sem ninguém
perceber, dou uma paradinha no que estou fazendo e viajo no tempo. Volto para
nossas tardes na Avenida Maracanã. Lanchávamos ouvindo as novelas da Rádio
Nacional naquele seu rádio de pilha marca Telespark.
Hoje em dia, nas empresas,
há sempre muito trabalho a ser feito e poucas pessoas para fazê-lo. A gente
vira máquina, mas é preciso. São muitas responsabilidades e não temos muito
tempo. Nem para nós mesmos.
Ainda bem que tenho você.
Ainda bem que tenho o seu colo, o seu coração e as suas preces.
Com todo o meu amor,
Sergio