sábado, 9 de maio de 2015

São Paulo, SP 10 de maio de 1995


                         

 Querida Mamãe:


Hoje eu consigo escrever uma cartinha para você num micro computador. E posso mais. Posso também escrever cartas para os fornecedores da empresa onde trabalho, em todo o mundo, usando uma língua que não é a nossa.

Mas, há muito tempo, foi você quem me ensinou as primeiras letras e as primeiras palavras. Você me dava aulas de caligrafia escrevendo as palavras no início da linha do caderno e eu tinha que repeti-las até o final.

Uma das palavras era “Esso”, sim, a marca da gasolina. Duvido que você lembre, mas eu nunca esquecerei.

Graças às aulas que você me deu, nunca precisei ir ao jardim-de-infância: Você me alfabetizou. Graças ao Português que você sempre falou e me ensinou, consigo expressar-me corretamente, usando os verbos no tempo certo.

Graças à tabuada que você insistiu em me ensinar, nunca esqueci que nove vezes nove é oitenta e um.

Era um tempo bom em que eu passava as tardes com você. No lanche havia mate quente com torradas. Você fazia as torradas apertando o pão no fundo da frigideira com um pouco de manteiga. Eram as torradas mais gostosas do mundo.

Às vezes, no trabalho, sem ninguém perceber, dou uma paradinha no que estou fazendo e viajo no tempo. Volto para nossas tardes na Avenida Maracanã. Lanchávamos ouvindo as novelas da Rádio Nacional naquele seu rádio de pilha marca Telespark.

Hoje em dia, nas empresas, há sempre muito trabalho a ser feito e poucas pessoas para fazê-lo. A gente vira máquina, mas é preciso. São muitas responsabilidades e não temos muito tempo. Nem para nós mesmos.

Ainda bem que tenho você. Ainda bem que tenho o seu colo, o seu coração e as suas preces.

Com todo o meu amor,

Sergio