domingo, 3 de março de 2013

Curso de Teatro


Por que não pensei nisso antes? Onde mais eu viveria a vida de outras pessoas, reais ou não?

Acredito que nenhum outro curso proporcionaria momentos com tanta diversão e fantasia quanto o de teatro.

Lá reencontrei a diretora Vivian e a autora Nadine e fiz novos amigos. A grande maioria das aulas foi ministrada no palco do excelente teatro do C.C.J., o Centro da Cultura Judaica, no bairro Sumaré em São Paulo – SP.

Nos exercícios durante o curso, interpretei, por exemplo, o Capitão John Smith, enquanto que o meu colega Vitor  viveu o violinista Jock Hume, o que continuou tocando seu instrumento e tentando, heroicamente, entreter os passageiros enquanto o nosso navio, o “Titanic”, naufragava...

Representei também o Cavaleiro Solitário ou Zorro, o amigo do Tonto e não o inimigo do Sargento Garcia, com minha colega Débora na garupa do cavalo, interpretando uma doente terminal cujo último desejo era fumar unzinho antes de galopar definitivamente para a Terra de Marlboro. O desejo foi prontamente realizado e com o brado “Hi ho Silver!” no final da cena.

 
Na nossa turma haviam duas Déboras e a Debis, numa outra aula sobre improviso, arrumou a mesa e serviu vinho para um  jantar romântico à luz de velas. O tempo passou e o jantar esfriou. Lá pelas tantas eu, o novo namorado, cheguei para o jantar cantando e com um disco do Wando debaixo do braço, depois de tomar todas.

Ela abriu a porta, mas com a corrente de segurança, e mandou-me ir embora. E não abriu mais a porta. Mesmo estando ansiosa para mostrar o novo corte de cabelo e a tintura vermelho-paixão, permaneceu absolutamente insensível ao meu apelo:


_ Abra a porta mi diablo rojo!..


E, na apresentação da peça montada durante o curso, contracenei com colegas adoráveis e interpretei os personagens Reb Tevye, de um Violinista no telhado, e Jota Moura, o antes popular e hoje esquecido Beijoqueiro, famoso por beijar Frank Sinatra no meio do seu show no Maracanã, Rio de Janeiro - RJ, em 1980.

O curso terminou no final do ano passado e foi bom. Gostei dos colegas, mas nesse momento preciso dar prioridade ao autor e não ao ator. Já estou com saudades da turma e peço que mantenham contato comigo. Estarei aqui no BLOG contando minhas histórias verdadeiras, mas com uma ou outra pitadinha de licença poética.

Agora que vai começar uma nova turma e não sou mais calouro, tenho uma recomendação para os novos alunos:

_ Decorem bem o texto e o mais rápido possível, mas fiquem tranquilos no dia da estréia porque o público ajuda, estimula, participa, empurra o espetáculo para que tudo dê certo. E sempre dá!

­­­_  Mazel tov!!! 

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Capitão Edward John Smith 1850 – 1912
 
 

 
The Lonely Ranger (ator Clayton Moore) & Silver

 
 
 Cena da peça “Retalhos”, dirigida por Vivian Vineyard e autoria de Nadine Trzmielina. Atuo com a atriz Melissa Barbosa, no papel de “Hodel”, filha do meu personagem “Tevye”, na obra “Um violinista no telhado”, musical adaptado de conto do autor Sholem Aleichem.






 Elenco da peça "Retalhos" no CCJ Turma 2012


 



Fotografias antigas obtidas na Internet e sem indicação visível do autor




sexta-feira, 1 de março de 2013

Fernandinho


Em 1971 eu trabalhava num escritório no edifício Avenida Central, no Rio. Lá, conheci o meu colega Fernando. Na primeira imagem que guardei ele é alto,  magro, fuma e veste terno cinza bem clarinho.

Até hoje não sei o que chegava primeiro: se o olhar ou o sorriso. Tinha olhos bem verdes e um dente quebrado na frente. Tinha, também, uma tossezinha de fumante e uma risadinha aspirada que servia para qualquer situação.

Em pouco tempo percebi que era uma das pessoas mais simpáticas que conheci em minha, já, longa vida.

Ficamos amigos logo. Conheci toda a família e era um bocado de gente bonita com olhos verdes ou azuis.

Generoso, me apresentou a todos os seus amigos que logo eram meus amigos também.

No escritório, aos vinte e poucos anos, éramos os mais jovens e nossos chefes, bem mais velhos, gostavam muito de uísque, cigarro, jogos e mulheres.

Durante a semana nossa vida sócio-profissional era intensa: Almoços com nossos chefes nos restaurantes Petit Paris e Camarão Granfino ou Key Club e happy hour nas uisquerias nos fundos das Casas Pardellas e Lidador, todos na vizinhança. Com ele conheci o haddock no molho de manteiga e o vol-au-vent de frango que gosto até hoje.

Nas sextas-feiras à noite o ponto de encontro da turma era a casa dele. Comida, bebida, cigarro, muita conversa  e música de violão ou toca-discos e, depois, do gravador AKAI.

Nos finais de semana tinha praia. Conheci Itacoatiara e lá, a Marcinha. Uma vez convidou-me para assistirmos um show do tio Dick – era o Dick Farney Trio! – e conheci R.B.Crespo. Nunca mais fiquei em casa sem programa. Ganhei uma turma pronta.

Na época ele era noivo da “Filhinha” que exercia a maior autoridade sobre toda a turma. Depois de casados o matriarcado continuou.

Uma vez, em Itacoatiara, chegamos da praia muito tarde para o almoço e levemente (!) alcoolizados. Ela deu um “esporro coletivo”, com o dedo em riste, nos rapazes da turma e ninguém deu um pio.

E quando, por um motivo qualquer, havia uma disputa de pontos de vista do casal, ele sempre encerrava a discussão com uma frase que ficou célebre: _ Porra, Filhinha!

Quando nasceu o filho dele, o Felipe, foi uma alegria geral. O primeiro casal a casar foi, também, o primeiro a ter filho. Filhinha com o bebê e as amigas na maternidade e todos os rapazes no boteco ao lado, bebendo cerveja e fumando charuto. Felicidade geral. Quando estava feliz ele nunca esquecia dos amigos!

Exímio contador de histórias dos tempos do colégio interno e do serviço militar, às vezes exagerava um pouco nos detalhes, mas ele mesmo contestava a mentira repetindo uma frase que aprendeu:

_ Elpídio! Desce da árvore Elpídio! 

Só uma coisa eu nunca soube o porquê: Sempre que surgia uma oportunidade ele falava do seu ácido favorito, o muriático...
 


Fernandinho em Itacoatiara, fotografado por N.Palmer
 
 
 
 
Marcinha e Dick Farney
 



R.B.Crespo em Edelweiss, Teresópolis - RJ


 

(É claro que essa história) Continua...

 

Dedicado ao meu Amigo e irmão do coração Fernando Ítalo Mentges