domingo, 10 de junho de 2012


Mary Maria aposentou-se por tempo de serviço. Nos primeiros dias em casa, não suportava o latido do cachorro e nem a algazarra das crianças do vizinho. Tinha uma que chorava o dia inteiro.

Havia a visita dos medidores de água e luz e a passagem dos caminhões do lixo e do gás em horários mais ou menos previsíveis. O telefone fixo tocava o dia inteiro com gente oferecendo coisas e serviços que ela não queria comprar.

Cada dia enguiçava alguma coisa. Telefonava e pedia manutenção. Marcavam dia tal, no horário comercial. Era um dia inteiro de espera e nem sempre o técnico aparecia.

Ficou chata. Telefonava para confirmar tudo na primeira hora da manhã. Perguntava nomes e números de matrícula e protocolo. Quando a visita técnica era com hora marcada, só esperava quinze minutos antes de telefonar reclamando da falta de pontualidade. Alegava que era pontual nos pagamentos e exigia reciprocidade. Do outro lado da linha, a culpa era sempre do trânsito.

_ Quer saber? _ Um saco!

Que saudades da vida corporativa, dizia para si mesma.

E o tempo foi passando.

Recebia, todas as manhãs, as visitas do bem-te-vi e do beija-flor. O jardim que ela mesma cuidava começou a florir.

Plantou uma árvore florida na porta de casa, mas roubaram. Plantou outra, mais bonita ainda, no mesmo lugar.

De manhã esperava, pacientemente, o leite ferver. Depois, saboreava o café, sentada ao invés de em pé, sem pressa e sem queimar a língua. Só então ia trocar a água doce do beija-flor. 

Sentava ao sol todas as manhãs. Quando chovia, prestava atenção ao barulho da água descendo pelas calhas. Demorou um pouco, claro, mas acabou aprendendo a diminuir o próprio ritmo e a saborear mais a vida. Hoje ela não troca, por nada nesse mundo, o seu home office.

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