Mary Maria aposentou-se por tempo de serviço. Nos primeiros dias
em casa, não suportava o latido do cachorro e nem a algazarra das crianças do
vizinho. Tinha uma que chorava o dia inteiro.
Havia a visita dos medidores de água e luz e a passagem dos caminhões
do lixo e do gás em horários mais ou menos previsíveis. O telefone fixo tocava
o dia inteiro com gente oferecendo coisas e serviços que ela não queria
comprar.
Cada dia enguiçava alguma coisa. Telefonava e pedia
manutenção. Marcavam dia tal, no horário comercial. Era um dia inteiro de
espera e nem sempre o técnico aparecia.
Ficou chata. Telefonava para confirmar tudo na primeira hora
da manhã. Perguntava nomes e números de matrícula e protocolo. Quando a visita
técnica era com hora marcada, só esperava quinze minutos antes de telefonar reclamando
da falta de pontualidade. Alegava que era pontual nos pagamentos e exigia
reciprocidade. Do outro lado da linha, a culpa era sempre do trânsito.
_ Quer saber? _ Um saco!
Que saudades da vida
corporativa, dizia
para si mesma.
E o tempo foi passando.
Recebia, todas as manhãs, as visitas do bem-te-vi e do
beija-flor. O jardim que ela mesma cuidava começou a florir.
Plantou uma árvore florida na porta de casa, mas roubaram.
Plantou outra, mais bonita ainda, no mesmo lugar.
De manhã esperava, pacientemente, o leite ferver. Depois,
saboreava o café, sentada ao invés de em pé, sem pressa e sem queimar a língua.
Só então ia trocar a água doce do beija-flor.
Sentava ao sol todas as manhãs. Quando chovia, prestava
atenção ao barulho da água descendo pelas calhas. Demorou um pouco, claro, mas
acabou aprendendo a diminuir o próprio ritmo e a saborear mais a vida. Hoje ela
não troca, por nada nesse mundo, o seu home office.
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