Em 1971 eu trabalhava num
escritório no edifício Avenida Central, no Rio. Lá, conheci o meu colega Fernando.
Na primeira imagem que guardei ele é alto, magro, fuma e veste terno cinza bem clarinho.
Até hoje não sei o que
chegava primeiro: se o olhar ou o sorriso. Tinha olhos bem verdes e um dente
quebrado na frente. Tinha, também, uma tossezinha de fumante e uma risadinha aspirada
que servia para qualquer situação.
Em pouco tempo percebi que
era uma das pessoas mais simpáticas que conheci em minha, já, longa vida.
Ficamos amigos logo. Conheci
toda a família e era um bocado de gente bonita com olhos verdes ou azuis.
Generoso, me apresentou a
todos os seus amigos que logo eram meus amigos também.
No escritório, aos vinte e
poucos anos, éramos os mais jovens e nossos chefes, bem mais velhos, gostavam
muito de uísque, cigarro, jogos e mulheres.
Durante a semana nossa vida sócio-profissional
era intensa: Almoços com nossos chefes nos restaurantes Petit Paris e Camarão Granfino ou Key Club e happy hour nas
uisquerias nos fundos das Casas Pardellas e Lidador, todos na vizinhança. Com
ele conheci o haddock no molho de manteiga e o vol-au-vent de frango que gosto
até hoje.
Nas sextas-feiras à noite o
ponto de encontro da turma era a casa dele. Comida, bebida, cigarro, muita
conversa e música de violão ou
toca-discos e, depois, do gravador AKAI.
Nos finais de semana tinha
praia. Conheci Itacoatiara e lá, a Marcinha. Uma vez convidou-me para
assistirmos um show do tio Dick – era o Dick Farney Trio! – e conheci
R.B.Crespo. Nunca mais fiquei em casa sem programa. Ganhei uma turma pronta.
Na época ele era noivo da “Filhinha”
que exercia a maior autoridade sobre toda a turma. Depois de casados o
matriarcado continuou.
Uma vez, em Itacoatiara,
chegamos da praia muito tarde para o almoço e levemente (!) alcoolizados. Ela
deu um “esporro coletivo”, com o dedo em riste, nos rapazes da turma e ninguém
deu um pio.
E quando, por um motivo
qualquer, havia uma disputa de pontos de vista do casal, ele sempre encerrava a
discussão com uma frase que ficou célebre: _ Porra, Filhinha!
Quando nasceu o filho dele,
o Felipe, foi uma alegria geral. O primeiro casal a casar foi, também, o
primeiro a ter filho. Filhinha com o bebê e as amigas na maternidade e todos os
rapazes no boteco ao lado, bebendo cerveja e fumando charuto. Felicidade
geral. Quando estava feliz ele nunca esquecia dos amigos!
Exímio contador de histórias
dos tempos do colégio interno e do serviço militar, às vezes exagerava um pouco
nos detalhes, mas ele mesmo contestava a mentira repetindo uma frase que
aprendeu:
_ Elpídio! Desce da árvore
Elpídio!
Só uma coisa eu nunca soube o
porquê: Sempre que surgia uma oportunidade ele falava do seu ácido favorito, o
muriático...
(É claro que essa história) Continua...
Dedicado
ao meu Amigo e irmão do coração Fernando Ítalo Mentges
Sergio que emoção! Que sentimento mais gostoso!
ResponderExcluirAmei, você me fez viajar no tempo e até para espaços que não conheci e que devido a sua generosidade estou podendo conhecer.
Beijos com muito carinho de uma irmã também saudosa mas ciente de que foi abençoada com irmãos, família e amigos muito, muito, muito especiais.
Foi um privilégio conhecer e conviver com você e toda a Turma do Fernandinho!
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