Queria comprar uma mala de viagem
antiga, mas não sabia onde conseguir. Acho que elas são mais chiques, de um
tempo em que as pessoas usavam roupas e acessórios especiais para viajar e as viagens, como um todo, eram
mais elegantes.
Por outro lado, tenho minhas
superstições e confesso um certo receio em adquirir objetos usados porque sempre
ouvi falar que os objetos conservam parte da energia boa ou ruim dos antigos
donos.
Até que encontrei a mala marrom,
num sábado, na Praça Benedito Calixto, em São Paulo-SP. Relutei
um pouco, mas finalmente comprei-a com a desculpa de que comporia um personagem
contador de histórias. Seria adereço utilizado em conjunto com chapéu, cachecol
e guarda-chuva. Deixei-a no meu escritório.
Gosto de malas. Elas estão presentes em todos os
momentos da vida. Mesmo antes de nascer, o bebê já tem a sua malinha. Depois no
colégio, no trabalho, nas férias a mala sempre irá acompanhá-lo.
Sabemos que daquele momento em
diante, não haveria tolerância para mais nada individual e sim fome, frio,
doença e humilhação coletivos. Dali em diante, nada mais seria preservado, nada
além do sofrimento.
Acredito que aquele pequeno gesto
de arrumar a bagagem, mesmo que às pressas, era uma última tentativa de
preservar o que restou do patrimônio da família ou da pessoa, o que ainda
restava de dignidade humana.
Quando voltei da viagem, olhava
para minha mala de modo diferente. Gosto muito dela e nunca senti nenhum
desconforto ao manuseá-la. Isso não impede que, de vez em quando, eu me
pergunte qual é a sua história. Quais caminhos percorreu? Pertenceu a alguém
que escapou da guerra ou veio em tempo de paz?
Acho que nunca saberei, mas não importa.
Ela continua no meu escritório e guardo nela a minha coleção de sonhos realizados, isto é, recordações de viagem, objetos
de lugares por onde passei e faço questão de lembrar.
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