segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Eugênio e eu...

Eu conhecia o navio “Eugenio Costa” desde a década de sessenta, mas foi somente em 1990 que embarquei como passageiro, junto com minha mulher, em Santos, para os dez dias do Cruzeiro de Natal. Por isso já falava dele com certa intimidade...

A rotina a bordo era uma festa para os sentidos: cores, texturas, sons, sabores, aromas e... glamour! Logo após a subida da rampa, o fotógrafo de bordo registrava o momento do embarque junto com as tripulantes vestidas com roupa de marinheiro. Durante toda a viagem ele registraria os melhores momentos, aqueles em que somos pegos de surpresa e não estamos com uma câmera à mão.

O exterior do navio era imaculadamente branco, exceto no par de chaminés amarelas com um desenho inconfundível. E no interior, as tapeçarias, os lustres, as poltronas forradas com veludo, as escadas, o elevador com as paredes de camurça, criavam uma atmosfera requintada, mas sem exageros. A cozinha funcionava 24 horas para preparar as seis refeições diárias. Nosso restaurante era o Quatro Estações e a decoração mudava a cada refeição. Nosso garçom dizia: _ Sou Raimondo, mas sou italiano e não baiano! Mesa servida por ele deveria ser mais cara, com pagamento de couvert artístico. Engraçadíssimo, espirituoso, criativo. Cada refeição era um evento. Guardamos, com muito carinho, várias fotos dele, da Zoraide, a encarregada das bebidas, e do José, o cumim.

Às cinco horas da tarde o chá era servido no Salão Ambra. Era um ritual que separava os dias repletos de atividades ou de muita preguiça ao sol, nas cadeiras-espreguiçadeiras do convés, das noites intensas com bailes, shows e boates ou intimistas, no mesmo Salão Ambra, à meia-luz, com uma cantora que interpretava com freqüência a música “Dindi”, do Tom Jobim.

Todas as noites nos bailes, homens de terno e mulheres com seus vestidos para ocasiões especiais, dançavam ao som das músicas das Grandes Orquestras, onde não faltavam Moonlight Serenade, do Glenn Miller e Stardust, do Tommy Dorsey. E nós estávamos lá. De vez em quando, escapávamos para o deck para sentirmos a brisa no rosto e, abraçados, observarmos a lua refletida no mar...

Quase no final da viagem, durante o piquenique na ilha em Angra dos Reis, observei o navio ao longe e a elegância de suas linhas harmoniosas por um bom tempo. Já sabia que aquele era um momento perfeito e que iria sentir saudades.

Depois, fiz outras viagens de navio. Conheci outros portos e mares, alguns mais charmosos até que os daquela viagem, mas nunca mais em um navio como o Eugênio. Ele não era apenas um meio de transporte ele era a própria viagem, a Grande Atração.

Encontrei na net uma foto atual dele. Dá muita tristeza ver aquele “Colosso”pintado de vermelho, enferrujado, a caminho do desmanche, mas o que podemos fazer? Prefiro pensar que ele vai viver para sempre na memória de alguns antigos tripulantes e na saudade de outros ex-passageiros tão românticos quanto nós...



(Texto publicado originalmente no ORKUT, em 28/09/2005)



 
 

 
 
 
Assista vídeo com o "Eugenio C" e seus irmãos da Linea C no YouTube: 
 
 
 
 


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